Entrevista ao Encenador e Docente Roberto Merino

Roberto Merino natural do Chile rapidamente se rendeu ao mundo das artes do espetáculo. Traçou o seu destino acabando por se fixar em Portugal em finais da década de setenta. Dramaturgo e Encenador profissional, assinou mais de uma centena de encenações. Trabalhou com o TEP, tendo sido, aliás, seu diretor artístico, Seiva Trupe e Teatro Art´Imagem, mas também com grupos amadores e universitários. Atualmente dirige o Curso Superior de Teatro da ESAP. Mantém, ainda, colaboração com outras escolas em Portugal e no Chile.

Olá Prof. Merino. Antes de mais agradecemos pela sua disponibilidade para esta entrevista. Fale-nos um pouco de si enquanto docente, diretor e profissional do teatro.

R: O importante é o teatro na sua globalidade. Ser docente veio mais tarde depois de ter sido ator e encenador, a necessidade de transmitir conhecimento é resultante desse processo anterior

Em que ano abriu o curso de teatro na ESAP?

R: O curso abre em 1982 e coincide com a abertura da maioria dos Cursos da ESAP/ então Coop. de Ensino Arvore, na gestação  deste curso estiveram involucrados o escultor José Rodrigues, o Actor Júlio Cardoso e o Mestre Deniz Jacinto historiador e encenador.

Em que ano iniciou a sua atividade enquanto docente e diretor do curso?

R: Estou ligado desde o início, exerci funções de coordenador, passados uns anos e por doença do seu primeiro Diretor, o mestre Deniz Jacinto, assumi a Direção do Curso.

Gostaria que nos explicasse quais as principais consequências do processo de Bolonha no desenvolvimento do curso do teatro?

R: O processo de Bolonha é uma etapa final (esperemos!) de um longo processo de mais de vinte anos de acertos com o Ministério de Educação, desde o Bacharelato à licenciatura bietápica (3+ 1) a esta Licenciatura de três anos!

Na sua opinião, quais são as principais motivações para a inscrição no curso de teatro?

R: Julgo que em geral existe uma apetência na juventude pelo teatro… alguns chegam à nossa escola com desejos às vezes mal canalisados, o gosto pela representação é algo fácil e apetecível, no entanto a arte de representar é difícil e delicada. Julgo também que o facto de sermos uma escola e instituição pequena motiva a procura por uma escola mais próxima do aluno, também as nossas produções e uma presença no plano artístico em festivais e teatros

Tem conhecimento de alguma política de marketing para motivar os jovens à sua inscrição? Se sim, quais?

R: As políticas gerais não existem, julgo, que o que existem e existiram sempre são os bons acordos de caracter aproximativo com as companhias profissionais e o mercado de trabalho.

Quais as saídas profissionais e acessos ao mercado de trabalho?

R: As saídas profissionais são as tradicionais no entanto abrem se novos campos que vão desde o ensino até o campo da animação, produção e gestão teatral.

Reconhece ter havido um acréscimo de taxa de sucesso profissional ou não?

R: No campo laboral e na colocação dos nossos alunos à saída julgo que somos uma escola de sucesso!

Qual a sua opinião relativamente à valorização do ator/teatro por parte dos outros profissionais, no nosso país?

R: Esse é um peso histórico que afortunadamente se esbate cada vez mais. Caro que estamos muito distante de países como França e Alemanha onde os artistas de teatro são considerados no mesmo nível que um pintor escultor ou arquiteto, mas lá chegaremos!

O que pensa que é possível fazer para que seja mais valorizada?

R:Trabalhar e demostrar o que valemos… e que uma sociedade sem teatro ou sem música ou sem dança é uma sociedade pobre, chata e morta!

Se pudesse, o que faria para publicitar o curso?

R: Era importante chegar a mais meios de divulgação a rádio a imprensa ou a TV, mas estes meios estão mais preocupadas com os crimes e outros assuntos que com a cultura … não se compreende que os jornais não tenham críticos de teatro, mas que tenham um corpo central diário inteiramente dedicado ao desporto (entenda-se futebol!)

Do seu ponto de vista qual a diferença da formação em teatro da ESAP comparativamente com as outras faculdades e escolas da mesma área?

R: O Nosso é um curso universitário, porque foi a nossa escolha, é um curso que privilegia o estudo teórico e cultural do teatro, acentuamos a nossa preocupação na evolução histórico-artística do teatro e valorizamos o trabalho do ator e do encenador numa perspetiva global de desenvolvimento da história da Humanidade.

                                                                                                             Susana Fernandes